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10 junho 2012

MELODIAS DO SERTÃO – Análise da música Paraíba

O blog “O véio macho” tem sua origem no estado da Paraíba, e como não poderia ser diferente , equipe ufanista decidiu homenagear a letra, fazendo desta a primeira da série “MELODIAS DO SERTÃO”. Pode não parecer, mas a canção tem uma carga histórica fantástica, a uma letra encomendada, uma obra eternizada na voz do Velho Lua.

Confira abaixo a letra e o vídeo da canção composta por Luiz Gonzaga e Humberto Texeira.
Paraíba - Luíz Gonzaga

Quando a lama virou pedra
E Mandacaru secou
Quando o Ribação de sede
Bateu asa e voou
Foi aí que eu vim me embora
Carregando a minha dor
Hoje eu mando um abraço
Pra ti pequenina
Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô

Eita pau pereira
Que em princesa já roncou
Eita Paraíba
Muié macho sim sinhô

Eita pau pereira
Meu bodoque não quebrou
Hoje eu mando
Um abraço pra ti pequenina

Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô

Quando a lama virou pedra
E Mandacaru secou
Quando arribação de sede
Bateu asa e voou
Foi aí que eu vim me embora 
Carregando a minha dor
Hoje eu mando um abraço
Pra ti pequenina

Paraíba masculina,
Muié macho, sim sinhô
Eita, eita.


A obra vista a partir de diferentes pontos de vista pode ter diversas interpretações. Para entender a obra é necessário viajar pelo contexto histórico da década de 30.

Na época, foram candidatos Getúlio Vargas a presidente e João Pessoa a vice. O voto era aberto. De um lado o livro de Júlio Prestes e do outro estava o de Getúlio. E se houvesse alguém capaz de trocar os livros de votação, esse seria punido pelo Coronel de plantão que alí estava para manter o chamado “voto de cabresto”.
Quando as eleições foram apuradas, Júlio Prestes foi eleito, e diante do fato, João Pessoa disse a Getúlio que se não lutassem pelo voto secreto, jamais o Partido Liberal se tornaria governante. Teriam que partir pra luta de qualquer jeito. Getúlio perguntou: “Como? Sem armas?” E João Pessoa o convenceu de que usariam nem que fosse bodoques, pedras, estilingues, paus, etc., mas que não deixassem de lutar. Então o verso: “seu bodoque não quebrou” queria mencionar a determinação de João Pessoa em brigar de qualquer forma. “Hoje eu mando um abraço pra ti, pequenina. Paraíba masculina, mulher macho sim senhor”. E, “Mulher macho” se refere ao Estado, pequenino, feminino, pois “A” Paraíba é um dos Estados do Brasil no feminino.
Assim, por ter sido João Pessoa, um paraibano, quem fomentou essa revolução de 1930, Humberto Teixeira fez a música “Paraíba” e Luiz Gonzaga gravou. Na década de 50 dizem que essa música foi encomendada pela campanha de Argemiro de Figueiredo e Pereira Lira. De qualquer modo o que importa é que acima de tudo foi uma homenagem a um Estado pequeno que impulsionou a nação inteira por mais justiça a favor do povo trabalhador. No entanto, por um equívoco de interpretação, provavelmente do Gonzagão ou de seus produtores, foi acrescentada a frase num tom brincalhão: “Vai pra lá, peste!”, e isso causou uma reação, um impacto na mensagem passada, induzindo a um tema sobre a sexualidade das mulheres paraibanas, disvirtuando por completo o contexto histórico e político que Humberto Teixeira queria mostrar.
Sobre a obra ainda podemos destacar o fato do termo Paraíba Mulher Macho, decorrer entre outros da guerra de Princesa Isabel, cidade paraibana distante 430 KM da Capital, ocorrida em 1930 quando do apoio de João Pessoa a Getúlio Vargas o governo central passou a perseguir o Estado e houve verdadeira guerra. Nessas situações os soldados abusam das mulheres e as de Princesa Isabel (cidade do estado da Paraíba) se armaram de Pau e PEDRA E SE DEFENDERAM BRAVAMENTE DOS OPRESSORES DAI A FRASE DA MÚSICA “Eita pau pereira que em Princesa já cantou. Eita, Paraíba mulher macho sim senhor”.
Por outro ângulo podemos analisar a canção levando em consideração uma época de seca em que o fenômeno êxodo rural está em auge. Assim o retirante nordestino, quando no período seca no sertão, vai para a grande metrópole em busca de melhores condições de trabalho, muita vezes, deixando pra trás esposa e filhos. Portanto, as mulheres precisavam trabalhar para manter a família, se comportando como “mulher macho”, suportando as condições da seca e da fome, lutando pela própria sobrevivência e pela sobrevivência dos filhos, chefiando a família enquanto aguardavam a volta de seus maridos.
É de se reconhecer a importância da fantástica obra de Luiz Gonzaga, que parece simples e ingênua, entretanto com inúmeros e valiosos significados, contando as histórias politicas e sociais da terra, comportando-se como verdadeiras MELODIAS DO SERTÃO. 

Por: Jobson Brunno

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